segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Receita da Velha Raposa

Marcelo Mário de Melo

Urgente!
Urgente!
Passar o velho telegrama
em fax.

Trocar pela pochete
a inveterada mala preta.

E um rococó de hoje
ser impresso
na nova camiseta.

Os mais antigos alternarem
gravata paletó
com blaser e camisa listrada
mas conservando sob a calça
o velho cuecão samba-canção.

É muito útil
neste cenário
a aura de algum revolucionário
desde que seja
competentemente
morto
e do passado.

Dele se extrai apenas
as cruzes de martírio
e Amor Divino
pisando com os dois pés
o pensamento
como se faz com uma flor
ou uma Caneca.

Ao re-matado morto ilustre
se acrescente
o requentado charme
de escolhidos ex
rebeldes vivos
de preferência
navegando em bílis
o barco-umbigo.

Que se mantenha um bom clima no país
eclipsando nuvens à esquerda
e empacotando
tempestados sociais.
Mas sempre assegurando
aragens pós-modernas
e chuviscos tropicais.

Quanto ao cardápio
servir Montesquiu e Adan Smith
no couvert
ou na sobremesa.
Mas sempre assegurando
em cada refeição
receitas à Bismarck ou à Napoleão.

Seguidas todas regras
que sempre se alteie no céu de anil
o manto da bandeira liberal
com letras góticas inscritas
sobre os remendos
e a pintura nova.

E após cuidado especial
para apagar
manchas de sangue.

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